Oh, pálido luar sobre o mar!
Guia-me e permita-me navegar
Ir tão, tão longe neste oceano
Cada pedaço deste plano cartesiano.
Lanço-me ao desconhecido
A resposta provável, contestar
Este jeito duro estabelecido
Esta mentira doce refutar
Não consigo me conter!
Em trevas não devo permanecer,
Véus de ódio, devo despir
Visões concretas, esculpir
Conceda-me tua luz, pálido luar
Pois nada sei e tenho muito a navegar
Nestes mares da vida,
Não quero me desviar
Nestas lágrimas da vida,
Não quero me afogar
Quero continuar...
Ouço um desconexo zumbido
Um arquivo totalmente corrompido
Essa multidão, palavras proferir
Mil vozes e incapaz de ouvir
E uma aflição sentir
Tantas vozes, tantos ruídos
Maus pensamentos proferidos
E nesta ausência de filtro
Torna-se um barulho sinistro
Talvez precisa-se os ouvidor tapar
De um tempo para me silenciar
Fazer essas vozes pararem de ecoar
Nesse conjunto de ondas destrutivas
Faço em mim essas únicas assertivas
Não posso negar e nem mentir
Preciso ser capaz de única voz ouvir
...a minha!
Os elos de minha corrente
Fecham-se livremente
Cada um é um ciclo fechado
De um tempo já findado
De momento cravado
E de memórias, carregado
Cada ciclo de pessoas relacionadas
De um tempo e amizades formadas
De circunstâncias pelo tempo moldadas
Que pelas andanças da vida levadas
E poucas, bem poucas, guardadas
Tic-tac, o tempo é implacável
Escorre pelas mãos de modo inefável
Tic-tac, gira o ponteiro sem parar
Pois o passado, nada posso mudar
Por mais que deseje-o negar
O que levas na corrente de seu tempo?
O que cativas a ficar, e da corrente não se soltar?
Que esta atrelado no fio de seu viver?
Além desse louco tic-tac a mover?
O que levarás quando a corrente romper?
Há um pedaço em mim que ainda arde
Uma ferida que talvez já seja muito tarde
Que em verdade lhe diz: Covarde!
Há em mim palavras travadas
Ecos de frases duramente gravadas
Ruídos no sinal de comunicação
Ranhuras atreladas a esse tolo coração
Há os versos não ditos
Momentos, que se pudera, reescritos
A pena e o tinteiro deixados de lado
Neste meu poema calado
Sinto uma inquietude
Tome uma atitude!
Veja o problema e sua magnitude
Não permaneça em Solitude!
(Não mais!)
Faça o que deve ser feito
O passado não pode ser perfeito
Pois sentes o gosto amargo do efeito
E ainda contempla no espelho o teu defeito
Eu lhe digo: Sinta-se Satisfeito
Eu espero com esmero
Um novo amor-imperfeito!
Há aqueles que usam das palavras
versos e falas quebradas
perdidos em sua loucura
Há aqueles que usam da voz
Em doces melodias, será meu algoz
Por entre notas da partitura
Cante, com ternura
Há aqueles que usam dos dedos
Pinceladas sutis, afugentam medos
Riscos precisos, linhas que ganham vida
Há aqueles que usam a lente
Olhos atentos, perfeitamente
O momento perfeito, prontamente
Há aqueles que usam o corpo
Gestos dizem mais que palavras
A voz, sem áudio
Mas há aqueles que usam do sorriso
Um gesto singelo, porém te aviso
Pode cativar-te para todo o sempre
Com mil tons de tinta, o mar floreia
Escreve teus versos ao léu, na areia
Teu cabelo vermelho, na noite é lareira
A água, com tua cauda, perneia
Com um sorriso, o céu clareia
Ser-ei-a!
Um Conto escrito a Lágrimas e Sangue
E no canto da cela, curvado e repetindo as mesmas frases de sempre com seu olhar moribundo e penetrante, lá estava ele. “Venha, precisamos conversar” e o homem permaneceu em seu movimento de vai e vem assíncrono, seus olhos eram como o mar aberto em dia de tempestade: te cativa, te faz lançar-se ao mar para no fim te naufragar em sua mente doentia.
Indago-o sem resposta e o homem continuava em seu movimento perpétuo, como um pêndulo a deslizar grosseiramente, para lá e para cá. Este homem, que em tempos atrás, você partiria tranquilamente da premissa de sua total sanidade, não aparentava ter nenhum comportamento violento. Seria chamada de “homem de bem”, “homem honesto” e “homem correto”, entretanto nunca aprendeu o real sentindo do amor e sua forma cadenciada de desapego. Era daqueles que se escondiam na faceta de bom moço, mas em verdade era extremamente inseguro e escondia todos os medos na forma de possessão. Vivia um amor doentio, abusivo por essência e atribuía a sua carência a sua total falta de noção. “Eu tenho medo da solidão”, era o maior dos males que ecoava em sua mente. “Por favor, não me deixe” “Eu prometo que daqui para frente, tudo será diferente”. A dor da perda não era algo que ele aceitaria, sentir que já não estava no controle da situação, tão menos.
Seu vazio era preenchido por uma garota mais iluminada que a luz da lua cheia, capaz de levar luz a sua mente perdida. Ela era o conforto, alegria e tudo que ele precisava ter. Mas um dia ela quis ir. Ir embora, pois não era capaz de suportar a pressão desse relacionamento destrutivo. Não aguentava ter sua liberdade drenada, não aguentava ter seu sorriso domado e sua vida controlada. Um dia ela simplesmente cansou-se e foi embora.
Até um dia, havia sangue nas mãos do homem, a dor da perda de um amor tornou-se a perda de sua liberdade e consciência, selado a sangue estava seu destino. A falta de compreensão do que é o amor o levou a um comportamento doentio, que minou e fez sangrar seu raio de luz. A lembrança do momento de fúria retorna como navalha, o corta todos os dias, viu aquele rosto meio com uma expressão de pavor e suas mãos algemadas. Uma forma bizarra de amar, uma forma doentia de amar. O destino de ambos, selado.
“Os vizinhos relataram constantes brigas” “Ouviram gritos” “Chamaram a polícia”. Tarde demais para a pobre garota. Tarde demais.