Além de Outra Porta

sábado, novembro 12, 2011 Fernanda Alves 0 Comments


Semanas antes do dia fatídico
um andar logo acima
Um casal a selar uma união de décadas
Ele finge que o aparelho de surdez não funciona
Apenas para ignorar a falação dela
E ela, luta para que ele enfim a ouça

Ela diz que ele ronca
Ele fala que ela rouba as cobertas para si
Ela, as vezes, o chama de porco
E ele a chama de vaca.

Ela jurou ir embora muitas vezes
Mas no final era ele que dormia no sofá
Não havia mulher mais chata nesse mundo!
Mas no fundo ele sabe que não viveria sem ela

Apenas ele e ela,
Filhos criados, netos e bisnetos.
Ninguém mais os visita
Ninguém quer saber do sentem
Apenas ele e ela.
Por anos assim: ele e ela.

Ah, a minha velha...
Azucrinava-me os ouvidos todo santo dia
Dizia as mesmas coisas repetidas vezes
Mas hoje resta-me apenas o silêncio
E saudade daquilo que já se foi
E minha hora que ainda não irá.

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