O Equilibrista Bêbado

terça-feira, setembro 22, 2015 Fernanda Alves 0 Comments





Sou deveras atrapalhada, em minha tentativa frustada de equilibrar taças. Numa música longa, de compassos quebrados que me forçam a mudar o ritmo de conduzir minhas taças. Como um garçom novato, que tremula ao levar mais taças, que sente o arrepio de servir o melhor vinho da casa e teme derrama-lo, assim sou eu, temo o desperdício daquele mesmo vinho que há tempos está envelhecido.


"Uma taça" e mantenho os olhos fixos a ela
"Duas taças" e procuro distribuir os pesos
"Três taças" Já sinto a responsabilidade
"Quatro, cinco, seis" 

Plaft! Ouço o estilhaço, me corto e sinto o sangue escorrer. Quebro taças, quebro a cara e perco tudo que levava. E a bebida se perde ao chão...
Como um equilibrista bêbado tendo conduzir minhas taças, no bar da vida, ora lotado, ora as moscas.
Não quero perder nenhuma gota, mantenho o olhar fixo e assim levo minhas taças, seguro neste descompasso, nessa dança louca de procurar o equilíbrio das coisas. Desdobro-me em cada deslize, estremeço em cada chacoalhar, e procuro pisar firme, mesmo que sinta que piso no gelo. Equilíbrio meu eu, minha vida e responsabilidades, feito um bêbado, caindo uma, pegando do chão outra e a vida que se segue... Limpado os cacos!

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Magma

quarta-feira, setembro 16, 2015 Fernanda Alves 0 Comments





Sou esta crosta espessa, apesar de sua grande dureza, traz em si as ranhuras do seu passado. Essa fatia endurecida e esfriada ao longo do tempo, apenas uma casca onde a vida pode acontecer.

Essa crosta que traz meus erros e defeitos, meu sorriso e alguns devaneios. Representa o meu falar compassado, em rimas controlado e em notas arquivado e predito no tempo. E os oceanos? Onde a ternura se esconde, a empatia te conduz e em leitos profundos meus medos acolhe. Observe a água e relíquias encontrará.

Em curvas de tensão, vulcões adormecidos e sentimentos esquecidos esperam o momento de transbordar tudo aquilo, ali dentro, há anos contido. Com violência, dizer o que deve ser dito e fazer o que deveria ter sido feito.

Magma, meu mar de sentimentos derretidos, esquecidos e de memórias corroídas de uma alma solitária, que ainda não aprendeu a arte de expressar-se. Em íons dissolvidos, ferro fundido e dores passadas, a pressão interna, outrora contida, insiste em transbordar.

Magma, por que vens a mudar minha crosta? Por que vens mudar minha face e expelir o que jaz ali dentro. Magma, no que me queres moldar?

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