Contos Aleatórios #1

domingo, dezembro 20, 2015 Fernanda Alves 0 Comments

Um Conto escrito a Lágrimas e Sangue



E no canto da cela, curvado e repetindo as mesmas frases de sempre com seu olhar moribundo e penetrante, lá estava ele. “Venha, precisamos conversar” e o homem permaneceu em seu movimento de vai e vem assíncrono, seus olhos eram como o mar aberto em dia de tempestade: te cativa, te faz lançar-se ao mar para no fim te naufragar em sua mente doentia.
Indago-o sem resposta e o homem continuava em seu movimento perpétuo, como um pêndulo a deslizar grosseiramente, para lá e para cá. Este homem, que em tempos atrás, você partiria tranquilamente da premissa de sua total sanidade, não aparentava ter nenhum comportamento violento. Seria chamada de “homem de bem”, “homem honesto” e “homem correto”, entretanto nunca aprendeu o real sentindo do amor e sua forma cadenciada de desapego. Era daqueles que se escondiam na faceta de bom moço, mas em verdade era extremamente inseguro e escondia todos os medos na forma de possessão. Vivia um amor doentio, abusivo por essência e atribuía a sua carência a sua total falta de noção. “Eu tenho medo da solidão”, era o maior dos males que ecoava em sua mente. “Por favor, não me deixe” “Eu prometo que daqui para frente, tudo será diferente”. A dor da perda não era algo que ele aceitaria, sentir que já não estava no controle da situação, tão menos.
Seu vazio era preenchido por uma garota mais iluminada que a luz da lua cheia, capaz de levar luz a sua mente perdida. Ela era o conforto, alegria e tudo que ele precisava ter. Mas um dia ela quis ir. Ir embora, pois não era capaz de suportar a pressão desse relacionamento destrutivo. Não aguentava ter sua liberdade drenada, não aguentava ter seu sorriso domado e sua vida controlada. Um dia ela simplesmente cansou-se e foi embora.
Até um dia, havia sangue nas mãos do homem, a dor da perda de um amor tornou-se a perda de sua liberdade e consciência, selado a sangue estava seu destino. A falta de compreensão do que é o amor o levou a um comportamento doentio, que minou e fez sangrar seu raio de luz. A lembrança do momento de fúria retorna como navalha, o corta todos os dias, viu aquele rosto meio com uma expressão de pavor e suas mãos algemadas. Uma forma bizarra de amar, uma forma doentia de amar. O destino de ambos, selado.
“Os vizinhos relataram constantes brigas” “Ouviram gritos” “Chamaram a polícia”. Tarde demais para a pobre garota. Tarde demais.


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